Mina da Caveira

Sta. Margarida da Serra, Canal Caveira

Mina da Caveira - Escombreira principal - Setembro de 2006
Mina da Caveira - Escombreira principal - Setembro de 2006

Introdução

A antiga mina da Caveira é a que se situa mais a NW na Faixa Piritosa Ibérica e os resíduos depositados na escombreira principal podem ser vistos de uma grande distância e são estimados em milhões de toneladas com um elevado teor em enxofre. O impacto ambiental a nível visual é significativo e quando chove muito, o enxofre chega ao rio Sado através da Ribeira de Grândola. Contudo, a partir de 2013 tem sido implementada alguma recuperação ambiental a nível hídrico ao qual foi criado um açude com 18000 m2 de superfície e 55.000 m3 de capacidade, cuja zona húmida tem sido reflorestada com diversas espécies autóctones. 

Localização

Localização da mina por satélite
Localização da mina por satélite

A mina da Caveira localiza-se na serra da Caveira no município de Grândola do distrito de Setúbal e o acesso faz-se através da N259, passando por Grândola em direção ao Canal Caveira. Pouco antes do Canal Caveira tem um entroncamento do  lado direito com uma placa a indicar Mina da Caveira. O acesso à mina faz-se em terra batida num percurso de 4,5Km.

Galeria de Fotos - Setembro de 2006

Escombreira principal
Escombreira principal
Bairro mineiro
Bairro mineiro

Geologia

Faixa Piritosa Ibérica (FPI) - Localização da Mina da Caveira
Faixa Piritosa Ibérica (FPI) - Localização da Mina da Caveira

A mina da Caveira está enquadrada geologicamente na Faixa Piritosa Ibérica (FPI) que constitui a principal fração da zona Sul Portuguesa, do segmento ibérico da cintura Varisca. Localiza-se mais a NW no enquadramento do sector Caveira-Lousal e que geologicamente fica perto do contacto com a zona de Ossa-Morena. A Faixa Piritosa Ibérica estende-se numa área geográfica com cerca de 300x60 Km desde o jazigo de sulfuretos polimetálicos de Lagoa Salgada perto de Alcácer do Sal em Portugal até à mina desativada de Aznalcóllar próximo de Sevilha em Espanha. Como se pode observar no mapa geológico simplificado, existem nesta faixa, várias minas onde têm vindo a ser explorados, intensamente, os depósitos metalogénicos maciços de sulfuretos, destacando-se pirites maciças associadas, em maior ou menor grau, a sulfuretos de metais básicos. Algumas minas portuguesas estão ativas como as minas de Aljustrel e Neves Corvo e possivelmente no futuro prevê-se o inicio de exploração para o jazigo da Lagoa Salgada. Outras como as minas da Caveira, Lousal, Juliana, Ferragudo, S. Domingos, Chança, Porteirinhos, Barrigão, etc, estão presentemente encerradas ou abandonadas. A FPI geologicamente é constituída mariotariamente por rochas de origem vulcânica e vulcano-sedimentares, de idades compreendidas entre o Devónico superior e o Carbónico (380-290 Ma), as quais acolhem um dos maiores depósitos maciços de sulfuretos de origem vulcânica do mundo, associados ao Complexo Vulcano-Silicioso. 

As estruturas geológicas com os sulfuretos maciços na área da mina da Caveira encontram-se em rochas do Complexo Vulcano-Sedimentar (CVS) e do Grupo Filítico-Quartzítico (DFQ) do Paleozoico, conforme extrato de folha geológica e nota explicativa acima e em baixo representado. O jazigo é formado por várias massas de sulfuretos associadas a xistos negros e rochas vulcânicas félsicas.

Nota explicativa
Nota explicativa
Cartografia da Mina da Caveira
Cartografia da Mina da Caveira

 A cartografia geológica da área mineira (Matos, 2006) mostra a ocorrência de pequenos chapéus de ferro localizados junto ao contacto entre os sedimentos e as rochas vulcânicas, incluindo precipitados hidrotermais de quartzo brechificados e enriquecimentos em óxidos/hidróxidos de Fe e Mn (Mateus, 2008). A mineralização primária da mina da Caveira é caracterizada pela ocorrência de pirite, galena, esfalerite, calcopirite, pirrotite, marcassite, bornite, tetraedrite, arsenopirite, cobaltite e ouro. Pontualmente em alguns locais apresenta valores químicos anómalos de Au, Ag, Cu, Pb e Zn. A mineralização distribui-se basicamente em dois níveis de massas de sulfuretos.

Setor ocidental - (Poço Helena): massas Noroeste/São João e Salvador/Esperança ou Esperançosa.

Setor oriental - (Poço Luísa): massas Canal/Frederico/Francisco e Augusto/António. 

As massas de sulfuretos oscilam entre 65 m na massa António e 22 m na massa Frederico com possanças entre 7 m e 1,5 m e orientadas N40ºW, 55º a 65ºNE. Apresentam teores máximos de enxofre entre os 37 % e 38 %

História

Dolabra Romana
Dolabra Romana
Lucerna Romana
Lucerna Romana

Todo o território da Faixa Piritosa Ibérica (FPI) tem evidências de antigas minerações com mais de cinco mil anos e a mina da Caveira não é exceção. Esta mina foi intervencionada entre o século I aC e o século IV dC durante a ocupação do império romano. Tal como em outras minas da FPI os romanos utilizaram mão de obra escrava no chapéu de ferro na serra da Caveira para a extração de prata, ouro e cobre. Em virtude do jazigo ser rico em prata, os romanos deixaram vestígios com alguma magnitude sendo ainda possível observar na corta Salvador mais de 10 galerias, entre as quais uma de esgoto com 1Km de extensão. Verificou-se também uma câmara de exploração e vários escoriais de resíduos de fundição, situados a jusante da escombreira principal e no setor norte da mina, os quais ocupam uma área de 78852 m2, correspondendo a cerca de 733324 toneladas (Matos, 2011).

Exploração mineira medieval.
Exploração mineira medieval.

Depois da formação do Território Nacional, o rei D. João I por volta de 1380 criou a comenda nesta região do então lugar de 'Gramdolla' vindo mais tarde a dar origem à aldeia de Grândola, que nos finais da época medieval tinha cerca de 150 habitantes. No reinado de D. João III foi atribuída a Grândola a Carta de Vila em 1544. Posteriormente, a primeira concessão mineira foi atribuída a António Varão em 1623 e os trabalhos na mina em anos posteriores foram continuados pelos seus descendentes. Sabe-se também que durante o reinado de D. João V a mina foi alvo de trabalhos (Júlio Palmeirim). Mais tarde no seculo XIX entre 1850 e 1851 foram publicados alguns artigos na Revista Mineira por João Maria Leitão (1819-1870), enquanto estudante na Escola de Minas de Paris, que aludiam para o facto de algumas minas do sul de Portugal, geologicamente serem semelhantes com as minas do Huelva na Andaluzia em Espanha. Por esta altura o diretor das minas de Tharsis e Calañas no Huelva era o engenheiro francês Ernest Deligny que se interessou pela informação destes artigos e, entre 1853 e 1859 enviou homens da sua confiança (Nicolau Biava e Juan Melbourrien) para averiguarem e pesquisarem locais de mineração no sul de Portugal. Em 1854 o italiano Nicolau Biava descobre a mina de S. Domingos através de antigos vestígios mineiros deixados pelos romanos e um ano depois em 1855, também por indícios de antiga mineração romana, registou a mina da serra da Caveira em Grândola. Os direitos do registo da mina da Caveira foram posteriormente transferidos em Diário do Governo de 15 de Outubro de 1862  para Ernest Deligny, começando a mina a ser explorada definitivamente a partir de 1863. Em 1880 verificou-se um incêndio que durou três anos devido ao alto teor de enxofre do filão principal que entrou em combustão espontânea. Em 1881 a propriedade da concessão foi transferida para a Companhia da mina da Caveira, que a explorou até 1884, ano em que suspendeu a atividade alegando más condições de transporte e de preço do cobre. Em 1890, a empresa inglesa A. White Crookston adquiriu a concessão e reiniciou a atividade mineira a nível subterrâneo. Esta empresa verificando já na altura o impacto ambiental devido aos resíduos da mineração, mandou construir a norte nos montes circundantes a barragem de Pêro Cuco com a finalidade de abastecimento de água e preservação da vida natural.

Açude da mina da Caveira - (Wikipédia)
Açude da mina da Caveira - (Wikipédia)
Barragem de Pêro Cuco - (Alcaxua)
Barragem de Pêro Cuco - (Alcaxua)

A atividade mineira continuou de forma irregular até 1919 e o diretor da mina era Arthur C. Harris. Por exemplo o trabalho desenvolvido entre 1907 e 1916 incidiu sobre minérios com teores em Cu variáveis entre 2,5 e 11% e, segundo os relatórios técnicos existentes, terão sido produzidas cerca de 5.000 t de concentrados com 70-80% de Cu, além de 16.447 t desconcentrados de pirite com Cu <1% e S < 45% (SIORMINP, 2002); a exploração do chapéu de ferro foi suspensa em 1909. A 20 de Setembro de 1916 entrou em exploração o lanço de linha férrea do Sado entre Lousal e Canal Caveira. Em 1921 cessou a atividade mineira nas minas da Serra da Caveira devido às consequências da 1ª Guerra Mundial. Em 1936 a A. White Crookston vendeu a concessão à empresa 'Mines et Industries SA' para a produção de enxofre e ácido sulfúrico. Ao longo das épocas de mineração o lugar das minas da Caveira foi beneficiado com edifícios de oficinas, armazéns de equipamentos, refeitório, administração, bairro dos trabalhadores etc. 

Palácio da mina - (Alcaxua)
Palácio da mina - (Alcaxua)
Villa Mastim - (Wikipédia)
Villa Mastim - (Wikipédia)

Destas construções salientam-se o 'Palácio da Mina' que em 1891 era a habitação dos proprietários da mina, a residência do diretor da mina (destruída por um incêndio em 2003) e a casa do engenheiro da mina construída por volta de 1940, com o nome atual de 'Villa Mastim', cuja conceção arquitetónica se deve ao arquiteto Raul L. da Silva, 1879-1974. 

Malacate de poço da mina da Caveira - 1960 - (Alcaxua)
Malacate de poço da mina da Caveira - 1960 - (Alcaxua)

A atividade mineira foi reativada na década de 1950 com trabalhos inopinados e depois terminou definitivamente em 1960. A mina da Caveira em 2003 sofreu um incendio no perímetro das instalações cuja propriedade fazia parte o grupo Sapec SA da família Velge. A Sapec SA posteriormente reflorestou a totalidade do perímetro com sobreiros, eucaliptos e pinheiros mansos. Em 2013 a propriedade 'Minas da Caveira' foi adquirida pela empresa Alcaxua, Lda. cujo objetivo é uma exploração responsável e sustentável em recursos naturais.

Mineralogia

Copiapite, Enxofre - 10x6cm
Copiapite, Enxofre - 10x6cm

A representação mineralógica da mina da Caveira é em tudo semelhante com outras minas da FPI e resume-se basicamente a escorrências ou precipitações de alteração do minério nas escombreiras. A visita que fiz em 2006 verifiquei junto das linhas de água grandes precipitações de enxofre com copiapite, mais de resto encontrei algumas goethites irisadas interessantes. A pagina do Mindat para esta mina indica 9 minerais validos.  

Pirite (minério) - 8x5x4cm
Pirite (minério) - 8x5x4cm
Goethite - 5x4x2cm
Goethite - 5x4x2cm

As fotos de precipitados com representações de enxofre com copiapite foram tiradas no local junto de linha de água com proveniência na escombreira principal.  

Linha de água com depósito de enxofre/copiapite
Linha de água com depósito de enxofre/copiapite
Enxofre, Copiapite - 12x12cm
Enxofre, Copiapite - 12x12cm