Minas de Ingadanais

Vila Velha de Ródão

Portas de Ródão - Dezembro de 2005
Portas de Ródão - Dezembro de 2005
Ponte Ferroviária do Ribeiro de S. Pedro – Junho de 2012
Ponte Ferroviária do Ribeiro de S. Pedro – Junho de 2012

Linha Ferroviária e as Minas – Um caminho do Cobre.

Dedicado ao meu pai, ao meu avô e ao meu sogro que trabalharam na mina S. Pedro o Cabeiro no principio da década de cinquenta do século passado.

Junho de 1975. De repente estou com a minha família e algumas caixas à porta da casa do meu avô em Vila Velha de Rodão em Portugal. Fomos uma entre milhares de pessoas deslocadas e empurradas de uma guerra desencadeada pela descolonização em Angola. No início em Portugal foram dias difíceis no refazer de uma nova realidade. Confortava-me por vezes em tocar nalguns minerais que trouxe de Angola. O meu avô "Matias" percebendo o carinho que tinha pelas pedras, um dia com um sorriso, deu-me um exemplar de calcopirite. Perguntei-lhe "Avô, de onde vem a pedra?" E ele respondeu "toma a linha do comboio até à ponte do ribeiro de S. Pedro e facilmente encontras as minas". Lá fui eu........ e apanhei a febre do minério !

Território do Geoparque Naturtejo
Território do Geoparque Naturtejo
Mapa Geológico do Geoparque Naturtejo
Mapa Geológico do Geoparque Naturtejo

Introdução

A mineralização de cobre das minas de Ingadanais corresponde à principal ocorrência de cobre em Portugal localizada a norte do Rio Tejo e está integrada no território do Geoparque Naturtejo, reconhecido desde 2006 pela integração na Rede Europeia e Global de Geoparques, sob os auspícios da UNESCO. Tem uma história com mais de 3000 anos de atividade mineira que ao longo do tempo foi alterando e transformando a paisagem. Reúne os concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão, com 4617 km2 de território, afastados do litoral e do buliço demográfico dos principais centros urbanos, numa paisagem geológica com mais de 600 milhões de anos.

Localização

Localização das minas por satélite.
Localização das minas por satélite.

No distrito de Castelo Branco, a norte de Vila Velha de Ródão e junto à linha ferroviária, localizam-se vestígios de algumas minas abandonadas as quais exploravam o cobre e que localmente toda a área destas minas é denominada por Ruínas das Minas de Ingadanais. 

As minas nº 1, nº 2 e nº 3 localizam-se em talude ao longo da linha ferroviária.

1- Mina do Ribeiro do Enxarrique está localizada ao Km 65,9 da linha ferroviária.

2- Mina do Ribeiro de S. Pedro nº 3 está localizada ao Km 66,2 da mesma linha e pouco antes da ponte ferroviária.

3- Mina do Ribeiro de S. Pedro nº 2 está localizada ao Km 67 depois da ponte ferroviária e por baixo desta, junto ao ribeiro de S. Pedro na encosta norte.

4- Mina Vila Velha de Ródão nº 2 localiza-se numa área de concessão a NNW da mina nº 2.

5- Mina de S. Pedro o Cabeiro está localizada mais a NNW da mina nº 4 e junto do ribeiro de S. Pedro o Cabeiro.

6- Mina Sitio do Cobre está localizada ao Km 68, fora da linha ferroviária e junto da barragem da Ribeira do Açafal.

7- Escorial de fundição do cobre está localizado ligeiramente a sul da mina Sitio do Cobre.

8- Mina Vila Velha de Ródão está localizada perto da povoação de Tostão.

9- Mina Peladas do Cobre e fora do conjunto das minas dos Ingadanais está localizada a alguns quilómetros a NW da povoação de Tojeirinha.

Geologia

Localização das minas - Carta geológica 24D - Castelo Branco
Localização das minas - Carta geológica 24D - Castelo Branco

As estruturas mineralizadas encontram-se embebidas em xistos micáceos, com alternância de grauvaques pertencentes ao Grupo do Complexo Xisto-Grauvaque das Beiras, instalado no Ordoviciano. Estas mineralizações correspondem a estruturas epigenéticas filonianas instaladas em segmentos da falha do Ponsul; um desligamento tardio e variscano de geometria complexa, reativado durante a orogenia alpina, (DIAS & CABRAL, 1989). O depósito ocorre numa rede de veios sub-paralelos N60º-70ºE, inclinando-se 80º para NW. A largura dos veios de quartzo mineralizado com pirite, cobre nativo, calcopirite, calcocite, azurite, malaquite e cuprite varia entre 0,5 e 1,4 m, atingindo o comprimento de 3 km. Em troços do caminho que liga as concessões evidencia-se uma alteração supergénica do veio mineralizado, nomeadamente na zona das brechas tectónicas associadas à falha do Ponsul. Aqui há sobreposições claras de rochas pelíticas do Grupo das Beiras, com cerca de 600 milhões de anos, sobre formações de rochas do Cabeço do Infante, com 50 a 30 milhões de anos.

História

Esboço das concessões de Cu de Vila Velha de Ródão - Guimarães dos Santos - 1945 - SFM
Esboço das concessões de Cu de Vila Velha de Ródão - Guimarães dos Santos - 1945 - SFM

As Minas de Ingadanais e a sua mineralização foram estudadas por Guimarães dos Santos (1945) para a "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda". Os primeiros registos de concessões com explorações datam de 1902/04 para as minas de S. Pedro-o-Cabeiro e Sítio do Cobre, que pertenciam à empresa mineira francesa "Société Minière Ibérique", com sede em Bruxelas e filial em Vila Velha de Ródão e que foram declaradas abandonadas em 1916 e 1921, respetivamente. As demais concessões pertenciam à empresa francesa "Société Anonyme des Mines de Cuivre de Rodan", com sede em Gavião de Rodão até 1921. Esta empresa registou em 1911 as concessões para a mina de Vila Velha de Rodão e Vila Velha de Rodão nº 2. Todas as concessões foram posteriormente atribuídas à "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda." em 1942. As operações mineiras cessaram em 1968 para a mina S. Pedro-o-Cabeiro e mina Sítio do Cobre. Finalmente em 1986 foram cessadas as explorações da mina do Ribeiro do Enxarrique e das minas do Ribeiro de S. Pedro nº 2 e nº 3.

Trabalhos Mineiros

1 - Mina do Ribeiro do Enxarrique

Escombreiras – Dezembro de 2005
Escombreiras – Dezembro de 2005
Ruinas da casa do Engº "Modés" – Dezembro de 2005
Ruinas da casa do Engº "Modés" – Dezembro de 2005
Ruína de forno ? - Dezembro de 2005
Ruína de forno ? - Dezembro de 2005
Tanque de precipitação do Cu - Agosto de 2012
Tanque de precipitação do Cu - Agosto de 2012

A mina do Ribeiro do Enxarrique foi registada em 1900 pelo engenheiro francês Léon Constant Maudet, conhecido localmente na aldeia de Gavião de Ródão como o "Sr. Modés". Na mesma altura também registou as concessões do Ribeiro S. Pedro nº2 e nº 3. Em 1906 cria e regista estas minas através da empresa "Société Anonyme des mines de Cuivre de Rodam" com sede em Gavião de Ródão. Mais tarde em 1911 adquiriu as concessões de Vila Velha de Ródão e Vila Velha de Ródão nº 2. O minério da mina do Ribeiro do Enxarrique mostrava bons teores de concentração com 35-40% de Cu e com a lavagem apresentava 15-18% de Cu. Durante este período o Engº "Modés" foi diretor técnico da mina e : "*Contratou mineiros cujos salários oscilavam entre 360 e 450 réis. A concessão tinha em 1906 máquinas de extração, com gerador, curral dos bois, depósito de pinheiros para escoramentos, malacate, casa e escritório do engenheiro, depósito dos materiais inflamáveis, casa e escritório do condutor de minas. Estabelece dois poços, com 50 e 43 m de profundidade. Para evitar o contacto das argilas, as travessas são abertas do lado do teto e seguem a direção do filão, desviadas dele 4-5 m. De 10 em 10 m uma galeria travessa corta o jazigo. Os poços produzem 10 e 5 m3/dia, respetivamente. Cubas para esgotar água são levantadas do poço nº 2 por meio de um malacate de eixo vertical e no poço nº 1, por meio de máquina a vapor de 12 cavalos. Este atingiria 143 m de profundidade. Existia uma galeria de esgoto no fundo do poço nº2 (a 43 m) que passava por baixo da linha férrea a 33 m de profundidade. A exploração mineira dos filões utilizava o método por degraus invertidos. O transporte interior do minério era feito por meio de vagonetes sobre rails transportando cubas de 300 l de capacidade. Na oficina mecânica de preparação e concentração de minério de cobre, um locomóvel de 12 cavalos acionava um quebrador de maxilas, um triturador de cilindros e 12 crivos, mesas rotativas e caixas alemãs, que asseguravam o enriquecimento do minério. Os carros de bois faziam o transporte exterior até à estação de Ródão por bons caminhos" *(ACAFA nº13 ).

A mina Ribeiro do Enxarrique e as restantes concessões mineiras foram declaradas abandonadas entre 16 de Agosto de 1920 e 28 de Janeiro de 1921. Mais tarde em 1942 todas as concessões dos Ingadanais foram adquiridas pela "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda". As minas Ribeiro do Enxarrique, Ribeiro de São Pedro nº 2 e nº 3 foi pedida a suspensão da lavra nos períodos de 1969/70 e 1973/76 respetivamente. A 18 de Agosto de 1986 as minas foram consideradas abandonadas. 

Esta mina em Dezembro de 2005 apresentava as ruinas da casa do diretor técnico e de forno metalúrgico, vestígios de poço entulhado, uma escombreira com estratificação bem marcada com restos de carvão vegetal e escórias derivado do poço nº1. Apresentava também um desmonte a céu aberto com planos em degraus, assim como vestígios de tanque de precipitação do cobre escavado no xisto. O Poço nº 2 situa-se mais a norte, junto da linha férrea e do qual só se vislumbra uma escombreira quase coberta por vegetação.

Mineralogia

Siderite - 2x1,5cm
Siderite - 2x1,5cm
Calcopirite/Pirite oxidada - 5x4x3cm
Calcopirite/Pirite oxidada - 5x4x3cm

A mina do Ribeiro do Enxarrique não tem vestígios mineralógicos significativos, salvo raras amostras de pirite/calcopirite completamente oxidadas e a coleta por sorte de duas amostras de siderite. 

2 – Mina do Ribeiro de S. Pedro nº 3

Mina do Ribeiro S. Pedro nº 3 - Zona do Afloramento - Dezembro de 2005
Mina do Ribeiro S. Pedro nº 3 - Zona do Afloramento - Dezembro de 2005

A mina do Ribeiro de S. Pedro nº 3 foi registada em 1900 pelo Eng.º Léon Maudet e em 1906 passou o registo da mina para a empresa "Société Anonyme des mines de Cuivre de Rodam" com sede em Gavião de Ródão. Esta mina foi declarada abandonada em 1920/21. Em 1942 foi adquirida pela "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda" que não teve o proveito esperado da mesma. Depois de varias vendas falhadas pediu a suspensão de lavra em 1973/76. Por fim em 18 de Agosto de 1986 foi declarada abandonada.

Nesta mina existem duas zonas que correspondem a veios sub-verticais bastante alterados e uma zona de afloramento junto da linha férrea. Os trabalhos de mineração foram feitos através de uma entrada de galeria por baixo da ponte ferroviária da encosta sul do Ribeiro de S. Pedro. Esta galeria desenvolveu uma travessa nº 7 para laborar um dos veios. O outro veio foi laborado mais acima na cumeada através de uma travessa nº 4 com saída para o exterior. A zona de afloramento junto da linha férrea foi trabalhada a céu aberto e em Dezembro de 2005 ainda apresentava vestígios de alicerces e escombreira que foi parcialmente removida para a abertura e beneficio de caminho florestal. 

Mineralogia

Cobre Nativo com alteração - 4x4x2,5cm
Cobre Nativo com alteração - 4x4x2,5cm
Quartzo - 10x5x3,5cm
Quartzo - 10x5x3,5cm

Desde 1976 do século passado que tenho visitado as minas dos Ingadanais e em Setembro de 1983 verifiquei que a escombreira da mina do Ribeiro S. Pedro nº 3 tinha sido parcialmente removida e com esse trabalho recolhi algumas amostras colecionáveis de drusas de quartzo sacaroide, quartzo com rotos de pirite e minério de cobre nativo com alteração.

3 – Mina do Ribeiro S. Pedro nº 2

Acesso ao local - Agosto de 2012
Acesso ao local - Agosto de 2012
Escombreira - Agosto de 2012
Escombreira - Agosto de 2012

O registo da mina do Ribeiro S. Pedro nº 2 foi efetuado pelo Eng.º Léon Maudet em 1900, mas nos anos seguintes surgiram várias polémicas com o registo desta mina como se segue. 

*"José Nunes de Paiva, natural da Covilhã, descobre a jazida de Ribeiro de S. Pedro nº 2 em Novembro de 1901. Um ano depois, José Augusto de Souza, escrivão da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão e conhecedor do processo legal de obtenção de direitos de descoberta, manifestante endossado das minas de cobre do Ribeiro de S. Pedro, Buraca da Moura e Barreiras das Missas vem reclamar os seus direitos, pois León C. Maudet terá requerido diploma de descobridor das minas de cobre. Esta reclamação não é apoiada por precedência dos direitos de Léon Maudet. Em 1903 surge a reclamação da Société Miniére Ibérique dizendo ter comprado por correspondência comercial a José Augusto de Souza os seus direitos de descoberta, por oito contos de reis, não sem este ameaçar vender as concessões que possuía a Léon Maudet, em Fevereiro de 1904. A Sociedade belga acaba por ficar apenas com a concessão do Sítio do Cobre e de S. Pedro, o Cabeiro, já em 1906".*(ACAFA nº13 ).

Esta mina foi declarada abandonada em 1920/21. Em 1942 foi adquirida pela "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda" que não teve o proveito esperado da mesma. Depois de varias vendas falhadas pediu a suspensão de lavra em 1973/76. Por fim em 18 de Agosto de 1986 foi declarada abandonada. 

Na mina do Ribeiro de S. Pedro nº 2 a exploração do minério era feita através de dois poços. O poço antigo hoje entulhado, situava-se na encosta norte do Ribeiro de S. Pedro e tinha acesso exterior através de travessa nº 9. Este poço tinha outra travessa nº 8 sem saída exterior. Mais acima junto da linha férrea ao Km 67, foi aberto outro poço de extração de minério com o nome de Boreto. Hoje os indícios destes trabalhos resumem-se a escombreiras  parcialmente cobertas por vegetação. 

4- Mina Vila Velha de Ródão nº 2

O Eng.º León Maudet registou em 1911 a concessão Vila Velha de Ródão nº 2, a qual abrange toda a área a NNW entre a mina do Ribeiro de S. Pedro nº 3 e a mina de S. Pedro o Cabeiro. Até ao momento não há registos ou a indicação de trabalhos efetuados nesta zona, o que me leva a crer (poderei estar errado) que o "Sr. Modés" registou esta zona de concessão por conflito com a empresa "Société Minière Ibérique" proprietária da mina S. Pedro o Cabeiro. Em 1942 a "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda." comprou todas as concessões dos Ingadanais incluindo a mina ou a "concessão" de Vila Velha de Ródão nº 2 que acompanhou todo o desfecho final ligado às outras minas de León Maudet.

5 - Mina S. Pedro o Cabeiro

Entrada da Galeria - Abril de 2025
Entrada da Galeria - Abril de 2025
Galeria inundada - Abril de 2025
Galeria inundada - Abril de 2025

A mina de S. Pedro, o Cabeiro, foi descoberta em 1902 por José Lopes Tavares da Rocha, de Proença-a-Nova, por evidencias de trabalhos antigos. No inicio do século XX a mina era propriedade de Leopoldo Mayer através da empresa belga "Société Minière Ibérique". A mina posteriormente foi abandonada em 1921. Mais tarde em 1942 foi adquirida pela "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda". No principio da década de 50 contratou trabalhadores para limpeza e manutenção da mina entre os quais figuraram a prestar serviço de carpintaria o meu avô e o meu pai. O meu sogro também chegou a servir nesta mina como trabalhador geral. Em 1968 a mina foi abandonada definitivamente.

No inicio dos trabalhos de S. Pedro o Cabeiro foi verificado dois filões mineralizados de (quartzo/brechas) paralelos e separados entre si por 38 m e que já tinham sido anteriormente explorados com a orientação N70ºE e posição sub-vertical.  Os trabalhos de mineração desenvolveram-se com uma galeria de 175 m na encosta direita do ribeiro, atingindo o filão de possança variável, entre 0,4 e 1,4 m. Na encosta esquerda do ribeiro desenvolveu-se a galeria oposta que atingiu os 118 m. Na visita recente ao local verifiquei que está cheio de mato a tapar quase completamente as bocas de mina. A Boca de mina principal tem um muro a fazer de barragem às águas e o interior está completamente inundado. No exterior tem pequena escombreira com indícios residuais de mineralização sem significado.  

6 - Mina Sitio do Cobre

Aspeto geral da Mina – Junho de 2012
Aspeto geral da Mina – Junho de 2012
Vista da Barragem do Açafal - Outubro de 2013
Vista da Barragem do Açafal - Outubro de 2013

A mina do Sitio do Cobre ou Buraca da Moura do Cabeço do Cobre (designação antiga), foi a primeira concessão das minas dos Ingadanais a ser registada em 1869 no concelho de Vila Velha de Ródão. No inicio do século XX e durante os trabalhos de prospeção verificou-se no local, vestígios de trabalhos antigos e nas proximidades da ribeira do Açafal; resíduos de escórias de fundição que posteriormente foram atribuídas a trabalhos de mineração e fundição datadas à altura do Império Romano com ocupação na Lusitânia entre os séculos II e IV aC. Em 1902 é reconhecida a descoberta das minas dos Ingadanais a José Lopes Tavares da Rocha, de Proença-a-Nova. A redescoberta destas minas também foi atribuída em 05/12/1900 a Albert Vigourox, diretor técnico da empresa belga "Société Minière Ibérique" com sede em Bruxelas e sucursal em Vila Velha de Ródão e que chegou a ter as concessões de S. Pedro o Cabeiro e Sítio do Cobre . Entre 1904 e 1905 no Sitio do Cobre foi efetuado trabalho de limpeza no poço nº 1, verificando-se que chegava aos 26m de profundidade, entretanto com o tempo voltou a entulhar e o Cabeço do Cobre foi abandonado em 1916. Entre Janeiro e Junho de 1942 em plena segunda guerra mundial e através dos interesses da Alemanha Nazi, a "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda" com sede em Alpedrinha comprou todas as 7 concessões dos Ingadanais, incluindo o Sitio do Cobre com o intuito de valorizar o seu património para depois as vender. A 22 de Setembro de 1943 esta empresa pede a suspensão da atividade mineira por impossibilidades de varia ordem decorrentes da 2ª Guerra e por isso nos anos seguintes tentou vender as concessões por varias vezes sem sucesso. No início de 1967 os trabalhos nas minas estavam há muito suspensos e sem autorização do Governo. Em 1968 as concessões do Sitio do Cobre e S. Pedro o Cabeiro foram abandonadas definitivamente. Presentemente o Sitio do Cobre ainda se encontram os restos de dois poços com galerias/trincheiras alinhadas a NE-SW no seguimento da escarpa de linha de falha do Ponsul. O poço nº 1 com 12 m de profundidade e parcialmente inundado encontra-se a 140 m de cota e o acesso faz-se através de uma galeria horizontal aberta na rocha. Mais acima na encosta a 160 m de cota, existe uma trincheira aberta com 40 m de extensão e 10 m de profundidade, cujo trabalho serviu possivelmente para intercetar trabalhos antigos. É possível observar nesta exploração, minerais secundários de cobre resultantes do escoamento superficial. No poço nº 1 existe um veio de quartzo sob o qual segue a galeria. Do mesmo lado existe uma escombreira de cor amarelada como resultado do desmantelamento do nível de oxidação (chapéu de ferro) que se estende até ao caminho que passa ao fundo da escombreira.

Mineralogia

Antlerite, Clinoclase - 2,5x2x1cm
Antlerite, Clinoclase - 2,5x2x1cm
Antlerite - 5x4x2,5cm
Antlerite - 5x4x2,5cm

As mineralizações primárias destes depósitos são catalisadas através do silício nos veios de quartzo. São mineralizações geralmente constituídas por cobre nativo, ferro, enxofre, arsénio e em menor quantidade, prata, zinco e chumbo. A base do minério das Minas de Ingadanais consiste em calcopirite, pirite, marcassite, arsenopirite, covelite e vestígios de tenantite, galena e pirrotite. 

Malaquite - 5x4mm
Malaquite - 5x4mm
Clinoclase, Quartzo - 4x2,5x2cm
Clinoclase, Quartzo - 4x2,5x2cm

A mineralização secundária resultante da oxidação do minério é muito bem visualizada no (chapéu de ferro) da mina Sítio do Cobre, onde apresenta alterações em outros sulfuretos, óxidos, hidróxidos e sulfatos de cobre e ferro. Menos comuns são os arseniatos e fosfatos de cobre. O cobre do (chapéu de ferro) é desalojado pela água da chuva, o qual posteriormente é alojado na zona de cementação da mina em carbonatos de cobre. Os minerais secundários mais importantes são: Cobre nativo, calcocite, cuprite, goethite, malaquite, azurite, antlerite, etc. Identificam-se visualmente alguns arseniatos e fosfatos de cobre como a clinoclase, olivenite e libethenite. Requer um estudo de mineralogia mais detalhado, pois provavelmente possui outras representações de sulfatos, arseniatos e fosfatos de ferro ou cobre com outros elementos. Normalmente os fluidos mineralizados arrastam outros elementos como K, Al, Ca, Cl etc. que se encaixam bem nas redes cristalinas.

7-Trabalhos de Fundição

Açafal e depósito de escorias (visível em frente) ) - Abril de 2013
Açafal e depósito de escorias (visível em frente) ) - Abril de 2013
Ponte Romana da Ribeira do Açafal – Abril de 2013
Ponte Romana da Ribeira do Açafal – Abril de 2013

Perto da mina Sítio do Cobre e junto a uma ponte romana da ribeira do Açafal, existe um depósito de escórias resultante da fundição de minério de cobre. Estes trabalhos de fundição são anteriores ao registo da concessão em 1904. As escórias das Minas de Ingadanais foram estudadas e analisadas por João Carvalho e Miguel Gaspar (2009), que identificaram outro depósito de escória na mina do Ribeiro do Enxarrique com trabalhos de fundição da década de cinquenta. Constatou-se que as escórias da antiga fundição da mina Sítio do Cobre são mais densas, menos vacuolares, mais desvitrificadas e muito mais ricas em cobre quando comparadas com as escórias dos anos cinquenta, sugerindo uma redução menos eficiente e que dataram esta fundição antiga ao período da ocupação Romana na Lusitânia. As escórias romanas apresentam uma cobertura de cor esverdeada devido à oxidação do cobre, são vacuolares com aderências de xisto e carvão vegetal. Algumas vezes exibem inclusões de glóbulos metálicos devido à redução menos eficiente. Estes glóbulos metálicos foram identificados como cobre nativo e cuprite. Os glóbulos de cobre nativo, geralmente ladeados por cuprite, são comuns e frequentemente modificados/decompostos para outras fases metálicas ainda não identificadas. Minerais como cuprite, cobre nativo, covelite, bornite, pirrotite e/ou cubanite (?), pentlandite (?), sulfatos de cobre, hematite e goethite tendem a preencher parcial ou totalmente os espaços vacuolares resultantes dos gases de exaustão.

Mineralogia das Escórias Romanas

Escória Romana - 5x3x3cm
Escória Romana - 5x3x3cm
Connellite - 5x4mm
Connellite - 5x4mm

Os sulfatos de cobre normalmente alojam-se nos espaços vacuolares ao longo da periferia externa da escória. Foi identificado visualmente a brochantite, connellite, antlerite (?). A brochantite apresenta-se em cristais prismáticos frequentemente com cores alteradas para verde-claro, amarelo, marrom e branco, indicando pseudomorfoses ou séries por identificar. A chalcofilite de início foi identificada visualmente por causa da estrutura cristalina hexagonal. Uma análise efectuada posteriormente a este mineral na Áustria pelo Dr. Uwe Kolitsch indicou Desconhecido - (Cu-S-Si-O-OH) com semelhança a ocorrências em escórias nas localidades de Lechnerberg na Áustria e mina Les Rats na França.

Estas escórias romanas acima citadas também requerem um estudo mais detalhado de mineralogia, tornando a mina Sítio do Cobre um local interessante no estudo de minerais. Uma breve nota sobre as escórias da mina Ribeiro do Enxarrique, resultantes da mineração dos anos cinquenta, indicam baixa densidade, mais vacuolares e vitrificadas. Apresentam um revestimento de oxidação ferrosa, relíquias de rocha vitrificada, carvão vegetal e raramente minerais secundários de cobre.

8- Mina Vila Velha de Ródão

Perto da aldeia do Tostão fica a mina mais afastada dos Ingadanais designada por Vila Velha de Ródão e cujo poço de extração do minério ainda é visível. Esta mina foi registada em 1911 pelo Eng.º León Maudet , proprietário da empresa "Société Anonyme des mines de Cuivre de Rodam", contudo antes do registo a concessão já era laborada desde 1906 e o próprio "Sr. Modés" foi o diretor técnico da mina até 1910. Em 1909 os salários dos trabalhadores desta mina eram: Mineiros, 500-550 réis; Safreiros, 400-450 réis; Trabalhadores, 360-400 réis; Mulheres, 200-240 réis; Rapazes, 100-120 réis. Entretanto as condições de segurança nas minas não eram as melhores, pondo em causa a vida dos mineiros e em Janeiro de 1909 as minas foram inspecionadas pelas autoridades. Entretanto entre 1907/12, León Maudet estende os seus interesses à região do Cercal do Alentejo onde adquiriu as minas locais de ferro e manganês (Brandão & Leal da Silva, 2019) e antes disso já em 1909 foi convidado a dirigir a empresa de minas "d'Ain-Barber" na Argélia, pelo que no conjunto destas circunstancias desinteressou-se das minas nos Ingadanais, as quais vieram a ser mais tarde abandonadas em 1920/21. Em  1942 a "Empresa Portuguesa de Estanhos, Lda." comprou todas as concessões dos Ingadanais incluindo a mina de Vila Velha de Ródão que viria a ser abandonada para todos os efeitos desde 1920/21. 

9- Mina Peladas do Cobre

Peladas do Cobre - Localização - (Lneg)
Peladas do Cobre - Localização - (Lneg)

A mina Peladas do Cobre fica fora do conjunto dos Ingadanais e situa-se a alguns quilómetros a NW da povoação da Tojeirinha. As evidências de trabalhos antigos levaram à sua descoberta pelo alemão Eduardo Cohen, residente em Portugal no Monte do Estoril. Mais tarde em Outubro de 1911 foi registada pelo Conde de Burnay através da empresa "Henry Burnay e Ciª" com sede em Lisboa. Em 1925 o Banco Burnay já estava estabelecido em Portugal e na altura investiu em força na indústria mineira Nacional, possuindo mais de 25 minas incluindo a mina Peladas do Cobre. Em Junho de 1937 foi pedida a suspensão dos trabalhos de lavra com a justificação do minério de Cu ser de baixo teor e ter percentagens significativas de Pb/Zn, a dificuldade do tratamento do Cu e o custo elevado do transporte, levou a que o Banco Burnay verificasse que a mina não era rentável para o investimento nos trabalhos. Esta mina mais tarde foi abandonada em 1961.

A mineralização da Mina Peladas do Cobre ocorre em filões de quartzo com calcopirite e malaquite, com orientação N20ºE, em que o filão principal tem em média 4 m de possança. Os trabalhos foram efetuados através de dois poços de pesquisa. Um dos poços chegou aos 60m de profundidade e o outro aos 45 m onde este tinha pelo menos dois pisos com travessas até 120 m e uma galeria de acesso com 160 m que partia próximo do Ribeiro do Russinho, cuja boca ainda hoje é visível. No local ainda se verifica um dos poços com abertura quadrangular e as ruínas de um edifício. 

Referências

Ingadanais Mines, Vila Velha de Ródão, Castelo Branco, Portugal (mindat.org). 

ACAFA nº13 - Património geomineiro a este da Serra das Talhadas (Vila Velha de Ródão): Minerais Excecionais das antigas Minas dos Ingadanais e Sitio do Cobre.