
Minas do Braçal
Sever do Vouga
Artigo em construção

Introdução
O complexo mineiro do Braçal representa um conjunto de várias minas que inclui as Minas do Braçal, da Malhada e do Coval da Mó e constituíram no passado um dos mais importantes centros mineiros do norte do país para a exploração de chumbo. Localizam-se ao longo do rio Mau na encosta E da serra do Braçal. Este complexo foi a mais antiga concessão mineira portuguesa a ser registada com o nº 1, e permitiu a exploração de um dos maiores jazigos mineiros a nível subterrâneo da região de Aveiro. O rio Mau, que atravessa as Minas do Braçal, é um afluente do Vouga e tem uma flora luxuriante, onde na floresta abundam os fetos e musgos. O local das minas, o rio que corre entre alguns tuneis artificiais e a floresta, fazem hoje parte de um trilho pedestre para os amantes da natureza.
Localização

As minas do Braçal situam-se a W da vila de Sever do Vouga no distrito de Aveiro. O acesso às minas faz-se através da vila com a direção ao Alto das Antas. Antes de chegar ao Alto das Antas corta-se à direita na estrada do Braçal e a mina fica a 1,5Km.
Galeria de Fotos - Julho de 2014




Geologia


As Minas do Braçal, Malhada e Coval da Mó ficam mais ou menos a 30 km a nordeste de Aveiro. O complexo mineiro situa-se na parte NW do Maciço Ibérico, mais concretamente na região noroeste da Zona de Cisalhamento Porto-Tomar (ZCPT). Esta estrutura marca o limite entre a Zona de Ossa Morena (ZOM), composta por terrenos do Proterozoico médio superior e do Paleozoico e a Zona Centro Ibérica (ZCI) composta por metassedimentos do "Complexo Xisto-Grauváquico" (CXG) ante Ordovícico e do Paleozoico. Afloram, também na região, granitoides hercínicos e formações sedimentares de idade holocénica e cretácica. (mapas acima representados).

Conforme mapa geológico acima representado, as minas assinaladas do complexo mineiro são:
1 - Mina do Braçal; 2 - Mina da Malhada; 3 - Mina Coval da Mó; 4 - Mina do Palhal (mais afastada).
A exploração mineira está relacionada com o "Grande Filão Metalífero das Beiras", Ribeiro (1860), que designa um conjunto de mineralizações, com orientação geral N-S e cerca de 10km de largura, que se estendem aproximadamente de São João da Madeira até Coimbra. A mineralização é do tipo Cu-Pb-ZN, contendo teores de Ag e Au. São muitos os filões mineralizados, sendo que alguns têm a orientação diferente do alongamento da faixa e podem ocorrer em qualquer tipo de rocha da região (graníticas, xistosas ou quartzíticas), existindo mesmo alguns que atravessam estas litologias sem alteração.

O campo mineiro do Braçal - Malhada é composto por doze filões quartzosos de galena encaixados em xistos do período Câmbrico, orientados N50º W e 85º a 55º SW e N60º a 80º E e 70º S, com extensões até 4Km e possanças até 6 metros. Os filões mais ricos apresentavam a galena em cristais muitas vezes euédricos em textura brechóide com ganga dolomítica. A exploração principal básica com valor económico era a galena e como produto final o chumbo.
História



A maioria das minas em Portugal começaram a ser registadas na segunda metade do Séc. XIX durante o período Fontista e a maioria, senão quase todas foram descobertas por indícios de explorações mais antigas e que remetem no geral ao período entre o século I aC e o século IV dC durante a ocupação da Península Ibérica pelo Império Romano. A descoberta das minas do Braçal não é exceção, pois junto do rio Mau na serra do Braçal, já havia vestígios de poços e escoriais antigos para a exploração e fundição de chumbo e aproveitamento da prata do tempo dos Fenícios e da Romanização. Em meados do Séc. XIX descobriram-se as minas da Malhada e do Coval da Mó através destes vestígios e nos trabalhos de limpeza encontrou-se vários objetos entre os quais uma trança de chicote de couro que serviria provavelmente para castigar os escravos que trabalhavam na mina, um pedaço de candeia de barro, um balde de madeira destinado provavelmente à extração do minério e alguns madeiramentos de carvalho quase alterados em lenhite que serviriam de suporte à mina. (Ribeiro, 1853; Ramos, 1998).


Um século mais tarde em 1943 o Eng.º João Oliveira Vidal ao fazer um reconhecimento numa nova galeria da mina da Malhada, encontrou duas lucernas romanas em que uma delas estava completamente intacta. Durante a Idade Média com o desenvolvimento da Metalurgia, muito provavelmente estas minas foram intervencionadas para o aproveitamento da prata com a qual se faziam essencialmente moedas e com o chumbo, era feito diversos objetos correntes como estatuetas, pratos, talheres, etc, muito em voga nesta época.


Em 6 de Agosto de 1836 foi dada por alvará a 1ª concessão mineira em Portugal para a mina do Braçal a José Bernardo Michellis. Quatro anos mais tarde em 1840 a licença de concessão passa para o alemão Diedrick Mathias Fewerheerd, comerciante do Porto e com conhecimento, impulsionou a exploração mineira com técnicos e tecnologia alemã. Mais tarde a concessão ficou registada definitivamente a 2 de Maio de 1868.

Entretanto em 1850 e a 1,5Km a N da mina do Braçal foram descobertas as minas da Malhada e mais tarde em 1856 a 2Km a W das minas da Malhada foram descobertas as minas do Coval da Mó. Por este sucesso o Governo concedeu através de portaria de 30 de Janeiro de 1854 a isenção de impostos durante 10 anos. As obras de apoio à exploração mineira em 1851 já tinham mudado o curso do rio Mau para a instalação de três rodas hidráulicas e uma turbina que serviam de força motriz para a extração do minério. Em 1862 uma multidão proveniente de Ribeira de Fráguas e de Silva Escura, entrou pelas instalações mineiras causando prejuízos avultados, em protesto pela poluição causada pelo fumo das fornalhas das minas que estavam a prejudicar as suas vinhas causando grandes prejuízos à produção agrícola. Verificava-se também grande mortandade da fauna piscícola no rio Vouga devido aos resíduos venenosos que recebia da lavagem do minério.

O rio Bom, que desce do Arestal, ao atravessar as minas começou a ser designado pelos antigos de rio Mau (nome que ficou), devido primeiro às suas cascatas e depois aos resíduos venenosos que recebia das minas. Devido aos prejuízos envolvidos com a invasão da população às minas e também pela necessidade que as minas tinham para o escoamento do minério, o Governo concedeu a Diedrick Fewerheerd como indemnização, a construção e exploração de via-férrea para vagões "Wagonways" ao longo do rio Mau desde as minas do Braçal até à sua foz no rio Vouga. As vagonetes de carga desciam por gravidade com os lingotes de chumbo e regressavam ao Braçal por tração animal, trazendo bens úteis à vida e ao trabalho nas minas. No rio Vouga o chumbo era carregado em dois barcos da mina com a capacidade de 10t cada e depois transportado até Aveiro, onde era despachado para Lisboa e Porto e depois exportado para a Inglaterra e Alemanha. A exploração desta linha férrea só teve inicio em Março de 1867 pelo prazo de 20 anos e com a renovação de concessão a linha funcionou até 1918. Em 1863, a concessionária mineira construiu uma metalurgia de fundição na margem esquerda do Rio Mau, a qual utilizava a mesma tecnologia desenvolvida na altura em Stolberg na Prússia.


Entretanto, Diederich M. Fewerheerd morre no Porto em 1874 e a 12 de Março de 1877 é formada a sociedade Administração das minas do Braçal em que faziam parte a viúva D. Sofia Fewerheerd e outros herdeiros. Até 1882 a empresa fez grandes investimentos no complexo mineiro, provocando uma crise financeira de tal modo que ameaçou o encerramento das minas. Por este motivo foi criada a 14 de janeiro de 1882 uma nova sociedade com capitais luso germânicos denominada Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal cujo alvará foi aprovado a 28 de junho do mesmo ano. Foi nomeado diretor da empresa o Dr. António Lopes da Gama. Esta empresa em 1890 tinha três áreas de exploração – Braçal, Malhada e Coval da Mó – Escritórios, Metalurgia, Serralharia, Caldeiraria, Fundição de Ferro e Bronze, Carpintaria, Laboratório e Refeitório.

Em 1898 a empresa de capitais belgas, Minas e Metalurgia, SARL sob tutela da Companhia Mineira e Metalúrgica do Braçal, impulsionou um novo dinamismo na exploração mineira. Na mina da Malhada abriram-se novas galerias que atingiam a mina do Coval da Mó, do outro lado da serra, numa extensão de 2km. Na mina do Braçal foi instalada uma nova Fundição para o minério. Com esta implementação a mina iniciou o Séc. XX financeiramente estável, atingindo o seu melhor pico em 1912 e empregava 350 pessoas. A partir de 1912 a mina entrou em declínio e após várias delongas encerrou definitivamente em 1933. Em 1938 na mina da Malhada instalou-se a Sociedade de Madeiras do Braçal e um ano mais tarde constitui-se a Sociedade Industrial e Agrícola do Braçal.

Em 1942 a Companhia Previdente, de Lisboa adquiriu a concessão e criou a Companhia Industrial e Agrícola do Braçal. O diretor técnico da empresa foi o Eng. João Oliveira Vidal, que para todos os efeitos foi decisivo na estratégia delineada para o novo período de exploração nas minas do Braçal. O poço mestre da mina do Braçal atingiu os 130m, o da mina da Malhada os 400m e o da mina do Coval da Mó, os 180m de profundidade. Em 1955 atingiu-se o pico da exploração com 742 pessoas a trabalharem nas minas e se extraíram mais de 2000t de minério que se transformaram em 900t de chumbo. Em 1958 a cotação do chumbo entrou em queda abrupta levando a empresa um ano depois a encerrar definitivamente a exploração. Com isto lançou no desemprego centenas de trabalhadores os quais senão a maioria tiveram que emigrar designadamente para a França e Alemanha para trabalhar na agricultura ou em outras minas. Em 1972 depois de decretado o abandono das minas, foi vendida toda a maquinaria para sucata e em 1974 todo o perímetro das minas com a sua floresta foi vendido à Companhia Portuguesa de Celulose e que se manteve até hoje nas suas sucessoras Portucel e agora The Navigator Company.
Mineralogia


Na visita que fiz à mina do Braçal em Julho de 2014 não encontrei amostras colecionáveis e as representações aqui expostas foram adquiridas de coleções antigas ou de amostras guardadas por mineiros locais. A página do Mindat para estas minas estão contabilizados 20 minerais. O minério principal é constituído por galena e esfalerite que acompanha outros sulfuretos como a pirite, calcopirite, marcassite e pirrotite. A ganga que acompanha o minério é constituída por dolomite, quartzo, siderite e anglesite.
Os filões apresentam 3 tipos distintos de ocorrência das mineralizações.
1 – Junto ao contacto com o xisto encaixante, em bandas milimétricas a centimétricas de ganga quartzosa, rica em pirite e esfalerite.
2 – No seio dos filões, apresentando textura brechóide, com ganga dolomítica, rica em galena, apresentando-se esta geralmente sob a forma de cristais euédricos.
3 – Em fraturas secundárias milimétricas a centimétricas, preenchidas por galena ou pirite, estando ausente qualquer tipo de ganga.
Destes três tipos, o mais importante é o segundo que corresponde à riqueza da mineralização em galena nestes jazigos.
A galena é o principal
sulfureto presente nas minas do Braçal. Apresenta-se normalmente sob a forma de
massas cristalinas e cristais isolados no seio da ganga dolomítica ou cobrindo
superfícies de fratura dos xistos encaixantes. São comuns os cristais com
hábito cubo-octaédrico e/ou maclados podendo atingir alguns cm de aresta. Quando
se apresenta sob a forma de massas, a galena possui uma textura que varia entre
lamelar a maciça em filonetes que se desagregam e clivam facilmente em cubos
segundo um dos eixos cristalográficos.


A esfalerite no Braçal ocorre em duas gerações diferenciadas em que a primeira apresenta-se sob a forma de agregados esferoidais de estrutura acicular, sendo classificada como wurtzite, (Marques de Sá, 2008), com cor castanho-escura a negra, brilho submetálico e hábito fibro-radiado e a sua génese é no contacto com o xisto encaixante, em bandas mineralizadas ricas em prata juntamente com pirite no seio do quartzo e com possanças máximas de alguns cm. A esfalerite de segunda geração apresenta-se geralmente com galena no seio de dolomite sacaroide em pequenos cristais tetraédricos de cor castanho alaranjado.